A maior pandemia é a falta de empatia

By Inês - 12:26 AM



Eu sempre fui adepta do distanciamento social. Sempre fui a criança que não dava beijos e a pessoa que não gosta de abraços (o facto de ter um metro e meio contribuiu para isto, mas não é disso que estamos agora a falar). 

Esta questão do Covid-19 veio trazer uma sensação de desconfiança constante, porque nunca sabemos se a outra pessoa nos pode infectar ou não, ou se podemos infectar alguém sem saber. No fundo, apercebemo-nos de que, a mínima atitude de outra pessoa, pode afectar totalmente a nossa vida. 

Até hoje, vivíamos numa bolha, despreocupados com as atitudes dos outros e a achar que nada do que eles fizessem nos poderia incomodar. Hoje sabemos que aquele colega de trabalho que parece tão arrumadinho, pode infectar-nos da mesma maneira do que qualquer outra pessoa. E porque é que isso nos preocupa particularmente? Porque nos afecta directamente. Porque podemos sair prejudicados. Porque podemos ter de abdicar de alguma coisa na nossa vida. Porque podemos sofrer. Porque somos nós e isso é importante. 

Se compararmos esta situação a uma doença mental, parece descabido, não parece? Mas qualquer pessoa pode sofrer de uma e nós não temos de saber. Não é sobre nós, não é sempre sobre nós. O colega de trabalho arrumadinho pode ter uma depressão e não nos vai contar. Não é preciso fingirmo-nos de surpresos quando o soubermos, porque não é sobre nós. 

As doenças mentais não escolhem idades, não escolhem géneros, não escolhem profissões e certamente não escolhem estratos sociais. Não digam que aquela pessoa que "tinha tudo" não tinha o direito de se suicidar porque há pessoas a sofrer mais do que ela. É precisamente por isso que pouca gente procura ajuda. Porque vai haver sempre alguém pior, e não é por isso que aquele problema deixa de existir. Procuramos sempre competir, até no sofrimento. Se alguém sente alguma coisa, há quem sinta pior. Se alguém tem vontade de morrer, há quem tenha ainda mais. Não há uma hierarquia de sofrimento, nem há uma regra que diga se aquilo que estamos a sentir é válido ou não. 

Uma doença mental não é uma brincadeira, e certamente não é dos fracos. Fracos são os que não conseguem demonstrar empatia e os que procuram razões para desrespeitar quem se sente mal. Fracos são os que precisam de dizer que "há coisas piores" e que "não tens motivos para te sentir assim".

Não tentem arranjar uma justificação para o suicídio de alguém. Olhem à vossa volta e perguntem se está tudo bem. Perguntem aos vossos se está tudo bem. Procurem os sinais, que existem sempre, como perguntam a alguém se tem sintomas de gripe. Chorem a morte de famosos e que essa sirva para vos consciencializar para um problema que existe em todos os estratos sociais. Mas não se esqueçam de perguntar a quem está ao vosso lado se precisa de alguma coisa. Mesmo que não perguntem, mostrem que estão lá e, acima de tudo, estejam mesmo.

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