O segredo é falar para as paredes.

1:13 PM

A verdade é que raramente criamos alguma coisa sem procurar uma aprovação - seja qual for a sua forma.

É difícil começar um blog e escrever para as paredes, é difícil encarar um novo desafio (na maior parte das vezes, auto-proposto) sem saber como vai correr.

Podia dizer que o segredo está aí, no desconhecido, mas não quero ser hipócrita e fingir que o desconhecido não é aquilo que trava muita gente de começar alguma coisa, criar algum projecto que tem tudo a ver com elas.

O segredo está em perceber - demore o tempo que demorar, porque não somos supersónicos nem temos de estar todos na mesma página - que aqueles momentos em que não sabemos quem - ou se alguém - nos lê/ouve/vê, são os momentos em que somos mais livres e, por consequência, mais nós.

Embora - e voltando ao princípio - qualquer coisa que façamos com o objectivo de tornar público, seja feita com a intenção de captar uma certa aprovação, os momentos iniciais em que não sabemos o que está a acontecer, são os momentos em que criamos para nós. Em que procuramos a nossa própria aprovação e que somos os nossos maiores críticos. Neste sentido, não sejam duros com vocês, mas não permitam que vacilem. Criem o que vos apaixonar.
  • partilhar:

A maior pandemia é a falta de empatia

12:26 AM


Eu sempre fui adepta do distanciamento social. Sempre fui a criança que não dava beijos e a pessoa que não gosta de abraços (o facto de ter um metro e meio contribuiu para isto, mas não é disso que estamos agora a falar). 

Esta questão do Covid-19 veio trazer uma sensação de desconfiança constante, porque nunca sabemos se a outra pessoa nos pode infectar ou não, ou se podemos infectar alguém sem saber. No fundo, apercebemo-nos de que, a mínima atitude de outra pessoa, pode afectar totalmente a nossa vida. 

Até hoje, vivíamos numa bolha, despreocupados com as atitudes dos outros e a achar que nada do que eles fizessem nos poderia incomodar. Hoje sabemos que aquele colega de trabalho que parece tão arrumadinho, pode infectar-nos da mesma maneira do que qualquer outra pessoa. E porque é que isso nos preocupa particularmente? Porque nos afecta directamente. Porque podemos sair prejudicados. Porque podemos ter de abdicar de alguma coisa na nossa vida. Porque podemos sofrer. Porque somos nós e isso é importante. 

Se compararmos esta situação a uma doença mental, parece descabido, não parece? Mas qualquer pessoa pode sofrer de uma e nós não temos de saber. Não é sobre nós, não é sempre sobre nós. O colega de trabalho arrumadinho pode ter uma depressão e não nos vai contar. Não é preciso fingirmo-nos de surpresos quando o soubermos, porque não é sobre nós. 

As doenças mentais não escolhem idades, não escolhem géneros, não escolhem profissões e certamente não escolhem estratos sociais. Não digam que aquela pessoa que "tinha tudo" não tinha o direito de se suicidar porque há pessoas a sofrer mais do que ela. É precisamente por isso que pouca gente procura ajuda. Porque vai haver sempre alguém pior, e não é por isso que aquele problema deixa de existir. Procuramos sempre competir, até no sofrimento. Se alguém sente alguma coisa, há quem sinta pior. Se alguém tem vontade de morrer, há quem tenha ainda mais. Não há uma hierarquia de sofrimento, nem há uma regra que diga se aquilo que estamos a sentir é válido ou não. 

Uma doença mental não é uma brincadeira, e certamente não é dos fracos. Fracos são os que não conseguem demonstrar empatia e os que procuram razões para desrespeitar quem se sente mal. Fracos são os que precisam de dizer que "há coisas piores" e que "não tens motivos para te sentir assim".

Não tentem arranjar uma justificação para o suicídio de alguém. Olhem à vossa volta e perguntem se está tudo bem. Perguntem aos vossos se está tudo bem. Procurem os sinais, que existem sempre, como perguntam a alguém se tem sintomas de gripe. Chorem a morte de famosos e que essa sirva para vos consciencializar para um problema que existe em todos os estratos sociais. Mas não se esqueçam de perguntar a quem está ao vosso lado se precisa de alguma coisa. Mesmo que não perguntem, mostrem que estão lá e, acima de tudo, estejam mesmo.
  • partilhar:

Como ganhar coragem para começar um blog (ou qualquer outro projecto)

12:00 PM

Há muito tempo que tinha vontade de começar este projecto. Sempre fui uma rapariga com uma enorme necessidade de passar os pensamentos para o papel (ou, mais tarde, para um blog). Ao longo dos anos, tive vários blogs onde escrevia as mais variadas coisas: um onde desabafava sobre a minha vida, outro onde escrevia sobre a minha paixão pelo futebol, e vários outros projectos do género, que começaram e nunca terminaram. Deixei de escrever mais assiduamente por volta dos dezanove, vinte anos, provavelmente porque comecei a ter outras prioridades, mas sempre senti falta de ter um cantinho onde podia ser realmente eu própria. Tentei várias vezes começar alguma coisa mas, ao contrário dos outros blogs, os quais eu me esforçava por manter em segredo, e que não queria que ninguém descobrisse, apercebi-me de que, desta vez, eu gostava de escrever para alguém e isso acabou por me prender os movimentos. Entrei numa fase de dúvida e de achar que nunca ninguém ia ler ou identificar-se com aquilo que eu escrevo e, sendo assim, não havia um propósito para começar uma coisa que queria realmente fazer. A verdade é que não podia estar mais errada, e hoje vou fazer uma lista das coisas que aprendi durante este processo de vai-não-vai na criação do in my twenties.

Parar de procurar aprovação externa. Quase todos os dias eu falava sobre esta ideia a alguém. Com o passar dos anos, achava que não devia ter um espaço apenas para divagar, mas sim para acrescentar alguma coisa ao mundo, algo mais profissional. O que eu não percebia é que, mesmo que só divagasse, já estaria a acrescentar algo ao mundo: a minha essência. Foi só quando parei de procurar a aprovação de pessoas "mais profissionais" que consegui começar a escrever no blog. Até aí, nada me parecia suficientemente bom comparado com o conteúdo das pessoas que eu seguia e que achava que gostava.

Decorar a casa ao meu gosto. Disse muitas vezes a mim mesma que, para criar um blog, bastava começar, escrever alguma coisa e ir melhorando, dia após dia. No entanto, havia sempre alguma coisa que me deixava para trás. Ou faltava alguma coisa no tema, ou não conseguia editar o cabeçalho, ou não tinha um bom nome, ou a hiperligação não estava disponível. Todos me diziam para começar o blog pelo conteúdo e deixar o design e o nome para depois, mas nunca consegui. Eu precisava de me sentir "em casa" e ter o meu espaço decorado à minha maneira para poder começar.

Escrever apenas quando fizer sentido para mim. Uma das principais regras para manter alguma coisa é a consistência. No entanto, a definição de consistência não está relacionada com publicar todos os dias, apenas para picar o ponto. Para mim só faz sentido que as publicações do meu blog mostrem quem eu realmente sou, e que as pessoas que me lêem consigam conhecer um pouco de mim através de um texto. Não posso prometer que vou escrever todos os dias, à mesma hora, se chegar ao dia seguinte e senti-lo como uma obrigação. Tudo o que eu faço, embora tenha passado por várias fazes de desmotivação recentemente, tem de ser feito com o coração e com total vontade, caso contrário, não irá valer a pena. Isto parece um grande cliché e a verdade é que, se estivesse a ler este conselho noutro lugar, iria achar que estava aqui só para parecer bem, mas há sempre uma altura na nossa vida em que nos apercebemos de que não podemos fazer absolutamente nada bem, se não estivermos a fazê-lo com vontade e com amor. 

Uma coisa que eu aprendi ao longo dos anos é que nada do que é feito com amor, pode ser mau. Seja o que for, por isso, arrisquem, tirem da gaveta aquele projecto que está a ganhar pó há anos.
  • partilhar: